O evangelho de hoje recorda algo difícil e sempre novo: Jesus disse, «com quem hei de comparar os homens desta geração? Com quem eles se parecem? São como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta para vós e não dançastes; fizemos lamentações e não chorastes!’» (Lc 7,31-35). Um dos grandes riscos da vida é vê-la passar pela nossa frente e não viver nada, não assumir nada, não se envolver com nada. Nem ‘flauta’, nem ‘lamentações’ nos capturam das distrações e do medo de viver.
Nossa história pessoal, nossas relações, a teia que formamos com o mundo, é o lugar para ‘escutar a música que Deus está tocando’. Em tudo, tudo, há um convite para a ‘dança’, ou seja, para mergulhar e experimentar a sinfonia da vida. Até nas crises mais fortes, nas interrogações mais pujantes, nas lamentações diárias, Deus está ‘tocando’ e convidando a uma vida atenta, desperta, que supera o mecanicismo.
O evangelho propõe uma chave educativa e de profunda espiritualidade: trata-se de se envolver com a vida, se envolver com o amor, se envolver com o sofrimento do outro sendo portadores do remédio da consolação. Em alguns casos, o envolvimento mais bonito significa chorar juntos, silenciar juntos, esperar juntos, rezar juntos.
Faleceu ontem, 19, o filósofo italiano Gianni Vattimo. Sempre muito crítico, atento, iluminado por tantas leituras, propôs o que chamou de ‘pensamento frágil’, uma inversão aos grandes pilares conceituais que fundaram o mundo ocidental. De fato, citando Dostoievski, escreveu, «se tivesse de escolher entre Jesus e a verdade, escolheria Jesus». Em uma reflexão sobre a poluição sonora nas grandes cidades, defendeu o «direito ao silêncio». Costurou, com a ajuda da mãe costureira, uma história que deixa marcas importantes no pensamento contemporâneo e é um farol de uma vida atenta, amarrada ao evangelho: «eu era um menino que cresceu com as consequências da guerra, da fome e das bombas. Um misto de precariedade e de medo. Eu ajudava minha mãe a costurar roupas».