Viver a verdade da vida!
Thomas Merton, que foi um monge trapista e é uma das minhas grandes inspirações (sobretudo no que diz respeito o rigor em escrever – «todo dia, ao menos, uma linha», afirmava categórico!), registrou uma reflexão com os noviços da Abadia do Gethsemani, nos Estados Unidos em que dizia «O propósito pelo qual você veio aqui é tornar-se você mesmo, descobrir sua identidade completa, ser você mesmo! A questão é que, obviamente, nossa identidade completa como monges e cristãos é Cristo. É Cristo em cada um de nós… Devo me tornar eu mesmo de modo a ser aquele Cristo que só pode ser o Cristo em mim. Há um Thomas Merton Cristo que precisa ser trazido à existência e que ainda não amadureceu. Ainda tem um longo caminho a percorrer».
O que Merton coloca em jogo é que não há separação entre o crescimento humano e o crescimento como cristão! Seguir Jesus não é uma exterioridade, uma aparência, mas é crescer como pessoa, amadurecer a vocação que ajuda a tornar-me verdadeiramente aquilo que sou. É o Cristo que nos habita que se alarga na medida que também enfrentamos a tensão dos fechamentos.
O evangelho de hoje (Mt 6,1-6.16-18) ajuda a rezar esse discernimento. Na continuidade do Sermão da Montanha, Jesus sublinhou três atitudes fundamentais da cultura judaica – a esmola, a oração e o jejum. Propõe, porém, uma inversão: sobre a esmola, Jesus disse: «quando deres esmola, não saiba tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique escondida»; sobre a oração: «entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido»; e sobre o jejum: «perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os outros não vejam que estás jejuando».
Viver «sem alardes», ser aquilo que se é, depende dessa intimidade com a consciência – esse ‘lugar’ escondido, mas não isolado, reflexo do nosso ser relacional. «Entrar» é a dinâmica de tornar-se filho do Pai «que vê o que está oculto», ou seja, sempre presente, próximo, em nós! Ser «outro Cristo» a partir da minha história significa viver a verdade da vida que supera a tentação da aparência e da superficialidade.