O Templo de Jerusalém é o cenário do evangelho de hoje (Lc 21,1-5). Jesus viu «pessoas ricas depositando ofertas», mas, sublinhou o gesto de uma mulher: «uma pobre viúva que depositou duas pequenas moedas». De fato, era «tudo o que tinha para viver». Naquele tempo, a viúva era alguém sem futuro, porque o futuro dependia do homem, do marido. «Ofertou mais do que todos», resumiu Jesus. Não era e nunca será uma questão de quantidade!
A «oferta total» da pobre viúva antecede a Páscoa de Jesus que vem na sequência da narrativa de Lucas. Na cruz, Jesus ofereceu-se integralmente! A Páscoa do cotidiano é sempre limiar da Páscoa da Ressurreição. Nesse sentido, a expressão «ofertar tudo o que tinha» é muito forte e transforma-se em itinerário de oração. Só é possível tatear o significado do amor de Deus com a régua da oferta da vida, da gratuidade, da generosidade, do amor.
Lawrence Carroll, um artista estadunidense de origem australiana, é muito original ao estabelecer como ponto de partida de toda a sua obra materiais reciclados, ligados ao drama da vida das pessoas. Ele estabelece com o «abandono» uma perspectiva de ressurgimento. Nada é inútil, tudo guarda uma potência de vida e pode ser transformado. O «rejeitado» aguarda a redenção, é sinal de ressurreição. Uma das amostras (em destaque) dá lugar a um par de sapatos gastos, qualquer coisa que reclama uma vida vivida intensamente, a memória, o cansaço, o desgaste, a viagem cheia de história.
A arte de Carroll é um convite para compreender a grandeza da pobre viúva que faz do «nada» um «tudo». É a reviravolta da pequenez, do dom, do desacreditado, do invisibilizado, daquilo que só a Páscoa é capaz de entender o tamanho!
Pe. Maicon A. Malacarne