A relação entre quem ama não pode ser de troca, não se resolve no ‘dar’ e ‘receber’. Um pai que ama faz o que faz por causa do amor. Uma mãe que ama se entrega totalmente porque ama. O amor não é uma permuta. Entre quem ama, quando falta gratuidade, o fracasso está na espreita. O amor é exatamente o caminho de dar lugar para o outro, expandir o coração e a vida!
Jesus, no evangelho de hoje (Jo 6,22-29), dá uma resposta espinhosa a multidão que foi procurá-lo, não por causa dos seus sinais, mas porque ganharam pão. Esse continua sendo o grande risco da fé: colocar o ‘eu’ como centro da relação. Busco Deus por causa dos milagres, procuro Deus por causa das ‘minhas’ necessidades, por causa dos ‘meus’ problemas a resolver. Uma relação que tem demais ‘eu’, carece de amor, porque carece de comunhão.
É curioso que o evangelho inicia dizendo que as pessoas procuravam Jesus e não o encontravam. Essa é a tensão: quando as ‘minhas questões’ estão acima da relação, criamos a ideia de que Deus está onde nós ‘achamos’ que deveria estar, no tempo que ‘achamos’ que deveria ser. Talvez não seja Deus que esteja escondido da nossa vida, mas nós que não sabemos onde procurá–Lo porque colocamos as nossas prioridades acima de tudo.
A questão decisiva é não permanecer no pão que sacia a fome, mas ‘procurar o alimento para a vida eterna’. É a comunhão total, aquilo que não termina hoje, que permanece, que dura, que atravessa a vida. No fundo, é a estrada difícil de amar por amar… o amor que é pão, mas, sobretudo, fome. O amor que é pão, mas, sobretudo, fermento.
Jesus Ressuscitado é o conteúdo desse programa de vida ou, como escreveu Santa Catarina de Sena, ‘dando-se a nós, deu-nos tudo’. É só quando, de verdade, nos sentimos amados que a relação com Deus pode mudar, superando toda tentação de troca, transformando-me, também eu, em dom total para a vida dos outros.
Pe. Maicon A. Malacarne
Bom dia…