O evangelho de hoje (Mt 25,14-30) fala de «talento». O talento era uma moeda muito preciosa. 1 talento equivalia a 6.000 dias de trabalho ou a 36 kg de ouro. A parábola conta que um homem viajou para o estrangeiro e chamou seus empregados para dividir seus bens. Para um entregou 5 talentos, para outro entregou 2 e para outro, 1, «cada qual de acordo com a sua capacidade». Essa expressão é fundamental porque diz que os talentos foram entregues conforme a abertura para recebê-los, não por preferência do patrão.
Acontece que o patrão viajou e quando retornou, muitos anos depois, encontrou o que tinha recebido 5 talentos com 10 talentos, o que tinha recebido 2 com 4 e o que tinha recebido 1 apenas com 1: «é que fiquei com medo e escondi o talento no chão.» Sobre o último, o patrão da parábola sintetiza: «servo mau e preguiçoso!»
Temos no evangelho o paradoxo da compreensão da vida! De um lado, a vida em expansão, onde o 5 se abre para mais 5, o 2 para mais 2. Não é uma questão financeira, de lucro ou coisa similar. É a vida! Carregamos esse tesouro precioso, esse talento valioso, e é nossa responsabilidade fazer «render» a vida em mais vida. Do outro lado está o medo, o esconder-se, o fechamento que torna a vida menos vida!
Teilhard de Chardin dizia que o plano de Deus é cristificar o universo, transformar tudo em «outro Cristo». Para isso, tem um papel fundamental a evolução humana que é abertura ao outro 5, ao outro 2. O poeta latino Ovídio, no compêndio de mitos chamado «Metamorfoses» dista que o ser humano foi criado da terra misturada com a água da chuva, mas, com uma diferença muito grande dos outros seres vivos: enquanto aqueles devem manter o rosto voltado para o chão, o ser humano recebeu a ordem de estar com a face voltada para o céu.
Ao invés de enterrar e esconder, a vida merece ser ampliada, amada, tornada sempre maior!