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Temos um Deus-ternura!

A imagem do Evangelho de hoje é fascinante e materna: «quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas tu não quiseste». Trata-se de uma lamentação de Jesus a respeito da dispersão, do fechamento de Jerusalém ao seu projeto.

Jesus evoca a sensibilidade, a doçura, o calor da galinha que abre suas asas para que, no aconchego e na segurança, os filhotes se sintam em protegidos. É o rosto de Deus que ama, que cuida, que consola e que diante de uma ameaça, ao invés de paralisar, abre, expande, alarga as possibilidades de amar. Deus dá tudo de si, dá tudo de si!

Catarina de Sena é que escreveu que Deus «não pode dar nada menos do que a si mesmo. Mas ao nos dar a Si mesmo Ele nos dá tudo». A escola do evangelho de hoje é para descobrir o lugar da ternura de Deus na vida e tornar a ternura um itinerário pessoal e comunitário. É verdade que do meio da polarização, das tantas acusações e gritarias, ficam apagadas as asas de um Deus amoroso e generoso, mas Ele sempre está a esperar nosso retorno, a tomada de consciência de que o ódio e a mentira levam ao absurdo da desumanização e a distância do calor sagrado.

No terceiro livro da Divina Comédia, o Paraíso, Dante encontra Piccarda Donati, uma mulher que foi forçada pelo seu irmão a deixar a vida religiosa para casar-se com um homem rico afim de que os negócios da família melhorassem. Conta a história que Piccarda morreu de lepra antes do casamento e que foi interpretado como uma graça de Deus as suas tantas orações para não se casar. No Paraíso, Dante se surpreende ao reconhecê-la sempre sorrindo e diz: «a doçura que você sente agora, sem ser provada, nunca é compreendida»!

A ternura, o bem-querer, o bem viver, só pode ser compreendido quando vivido, provado, experimentado no cotidiano da vida e por dentro da oração. Trata-se de partilhar a ternura com o mundo e abrir os olhos para, de longe, perceber as asas de um Deus que sempre tem lugar para nós!

Pe. Maicon A. Malacarne

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