O evangelho da transfiguração carrega os movimentos de subir e descer (Mc 9,2-10). De fato, Pedro, Tiago e João foram convidados por Jesus a ‘subir’ uma alta montanha. Subir a montanha é escalar para dentro de si, romper a escuridão do coração e a frieza que vai tomando conta dos nossos gestos para deixar a luz e o calor do sol passar! Na alta montanha, mais perto de Deus, Jesus foi transfigurado: «suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar». Com Moisés e Elias, a lei e os profetas, os primeiros discípulos experimentaram a luminosidade da Páscoa, anteviram as realidades do céu: «é bom ficarmos aqui!».
Era preciso ‘descer’ a montanha! Experimentar a luz significa assumir o compromisso da luz: «Este é o meu filho amado, escutai-o» foi a voz que alcançou os ouvidos dos discípulos. Escutar Jesus! Escutar a vida! ‘Descer’ é entrar na escola da escuta! Agarrados as nuvens, abraçados pela luz, acesos de sol, a transfiguração é uma alavanca que facilita mergulhar no cotidiano para assumir tudo, viver tudo, amar tudo, transfigurar tudo!
«Levantai-vos e não tenhais medo»! A transfiguração e a ressurreição estão sempre vinculadas! De fato, ‘levantar’ e ‘não temer’ são expressões pascais que encontramos sempre nos relatos do ressuscitado. A disposição de ‘estar de pé’, de ‘enfrentar os medos’, de comunicar o amor no mundo deve ser a chave que dispara o coração de um seguidor de Jesus Cristo!
Subir e descer podem ser compreendidos como divinizar e humanizar. A tradição oriental prefere chamar a transfiguração de divinização! Todo o universo, em Jesus Cristo, assume a vocação de ‘ser como Deus’ no ‘ser com a vida’. Teilhard de Chardin em «O ambiente divino», traduziu a missão da transfiguração na «tarefa de divinizar todo o universo». O mundo transfigurado é o mundo onde cada pessoa poderá dizer, sem dificuldade: «é bom estar aqui!».
Pe. Maicon A. Malacarne