Em uma reunião da Pastoral das Pessoas com Deficiência, em Erechim, uma das agentes contava a sua experiência: «sofri um acidente e perdi totalmente a visão. No entanto, o que tenho percebido nesses anos é que, agora, cega, eu enxergo realmente». O testemunho, desde aquele dia, me comove muito porque provoca a pensar sobre o que significa «ver». Há muita cegueira de quem «vê bem», mas permanece na superficialidade daquilo que o olhar alcança.
O cego Bartimeu, no evangelho de hoje (Mc 10,46-52), fez esse percurso: da cegueira ao ver verdadeiramente! Jesus ajudou-o a ver com outros olhos. O ver iluminado que passa da superficialidade a profundidade porque exige uma mudança de postura de Bartimeu. De fato, depois de gritar pedindo ajuda a Jesus e tendo Jesus acolhido a sua voz, ele «jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus». Bartimeu passou de expectador a sujeito que «larga tudo», abandona uma forma, um estilo e assume outro, da proximidade com Jesus. É a proximidade que ilumina tudo! A luz acende nos vínculos, nas relações saudáveis, nos encontros, diálogos, na boa convivência dos diferentes. A fé tem essa potência porque nos lança para a comunhão!
Bartimeu ensina que a primeira tarefa para uma vida iluminada é reconhecer-se cego, incapaz de encontrar a luz. Não é uma tarefa simples ou superficial. Fernando Pessoa dizia em poesia a necessidade de «despir o que aprendi, raspar a tinta, desencaixotar as emoções, desembrulhar a identidade». Trata-se de um itinerário espiritual rumo a uma vida mais unificada e integrada, uma vida cheia de luz, bem próximos de Jesus!
Pe. Maicon A. Malacarne