Elias carregava uma imagem de Deus impulsivo, violento, impetuoso que, pela força, deveria garantir que se cumprisse a Lei: «Não terás outros deuses» (Ex 34,14). Acontece que o rei Acab tinha se casado com Jezabel que havia favorecido o culto a Baal e perseguia todos os que se diziam crentes no Deus de Israel. O Primeiro Livro dos Reis conta que Elias, cheio de raiva, pegou a espada, enfrentou e matou 450 profetas de Baal. Em seguida, iniciou uma fuga porque a rainha queria prendê-lo.
A primeira leitura deste domingo está na sequência deste episódio (1Rs 19,9.11-13). Mais do que um deslocamento geográfico, a fuga de Elias é um mapa espiritual que tem muito a ensinar! No meio da perseguição, o profeta sobe o monte Horeb e entra em uma gruta para passar a noite. A gruta é o lugar da experiência da solidão, da crise ‘da noite’, do enfrentamento mais difícil que é purificar a forma e o conteúdo do coração, da consciência. Na gruta, Elias descobriu que Deus falou com ele no silêncio. De fato, nem no vento forte, nem no terremoto, nem no fogo… por nenhum sinal de força!
Luciano Manicardi, monge do Mosteiro de Bose, recupera a expressão original do que foi traduzido na Septuaginta como «murmúrio de uma brisa leve». Trata-se do hebraico «qol demamah daqqah» que, inequivocadamente, se pode traduzir como «silêncio sutil». O movimento espiritual de Elias o ajudou a dar o salto da força para o silêncio, da imposição para a liberdade! Não se pode constringir ninguém a acreditar, senão como acolhida absurdamente livre.
Desde o início, o movimento monacal viu em Elias um dos seus precursores, seguido, mais tarde, por João Batista. O silêncio continua sendo uma experiência para ser descoberta. O Senhor passou no «silêncio sutil» é um convite a meditação, ao exercício diário de aquietar e deixar que a palavra maior seja a palavra do silêncio. O silêncio abre o mapa da liberdade, do Deus que não se reduz aos nossos conceitos, que foge da prisão e do controle, como dizia um místico: «é, e ninguém sabe o quê. Está aqui, está ali, está longe, está perto, é profundo, é alto! Mas não! Eu menti: não, não é nem isso nem aquilo».
Pe. Maicon A. Malacarne