É muito interessante porque depois da crucificação de Jesus, com o trauma e o medo da cruz, os Atos dos Apóstolos (1,12-14) guardaram a imagem dos discípulos reunidor em torno de Maria. Não é algo circunstancial! Há momentos em que precisamos retornar e permanecer ao redor da mãe, lugar que cura e que consola. Um grande escritor italiano, psicanalista, Massimo Recalcati, escreveu um livro chamado «Le mani della madre» (As mãos da mãe, em tradução livre), que afirma duas características fundamentais da mãe: o sentimento de unidade e, ao mesmo tempo, a vocação de separar-se, de formar a identidade. Depois da cruz, Maria era o sinal de comunhão e a força para cada discípulo assumir a sua missão de continuar a obra de Jesus Cristo.
Hoje a Igreja celebra Maria, Mãe da Igreja! No pequeno trecho do evangelho (Jo 19,25-27) se lê 5 vezes a palavra «mãe». Uma nova maternidade está sendo formada. Ao receber Maria como mãe, o discípulo amado recebia o compromisso de ser filho: «eis aí a tua mãe»! Se a cruz tirava de nós Jesus, a humanidade inteira ganhava uma mãe! O evangelho ainda vai dizer: «o discípulo a recebeu em sua casa!» É na casa, o espaço do cotidiano, o lugar por onde a maternidade começa. É da casa que Maria gera novos filhos para o Filho!
De outras maneiras, nosso tempo é marcado por tantos medos, por tantos traumas, por tanta desarmonia na convivência, por tanta dificuldade de reconciliação, por relações marcadas pela superficialidade e pelo excesso da banalização… Mais uma vez, é tempo de retornar a Mãe, permanecer com a Mãe, e começar tudo de novo a partir da Mãe. Só o amor da Mãe é capaz de (re)formar todas as coisas!
Pe. Maicon A. Malacarne