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«Receber cem vezes mais»

A afirmação de Pedro, no evangelho de hoje (Mc 10,28-31), de que «deixamos tudo para te seguir», recebe a resposta de Jesus: «quem tiver deixado tudo… receberá cem vezes mais». É verdade que o seguimento a Jesus exige alcançar novas formas de vida, fazer renúncias, mas, é importante entender bem o que Jesus está dizendo sob o risco de duas grandes dificuldades: 1) o pensamento de que é preciso abandonar às raízes da história para seguir Jesus; 2) a espera pela recompensa pelo gesto de «heroísmo».

Gosto de rezar que as «cem vezes mais» é um alargador, uma espécie de lupa que amplia e ajuda a discernir o significado de tudo que guarda a nossa história. «Deixar tudo» não é esquecer, jogar fora, mas é expandir a vida que habita «o pai, a mãe, os irmãos, a casa», aquilo que somos. Nas experiências em que a vida se apequena, é diminuída, o seguimento de Jesus aparece como o «cem vezes mais», o novo olhar, a nova compreensão, a nova possibilidade, a nova relação, o salto… «Cem vezes mais» não é uma retribuição a um heroísmo pessoal, mas é o dom maior, a graça das graças, de poder viver a vida com mais conteúdo, com excesso de vida. Onde a vida é aumentada, plenificada, aí estão as sementes da ação de Deus.

Rainer Maria Rilke trocou correspondências com Franz Kappus o que, posteriormente, originou a obra prima «Cartas a um jovem poeta». Em certa altura, escreveu: «desejo que encontre bastante paciência em si para suportar e bastante simplicidade para crer; que confie cada vez mais no que é difícil, entre outras coisas, na sua solidão. No restante, deixe a vida acontecer. Acredite-me: a vida tem razão em todos os casos».

A vida tem razão, ainda mais, se for «cem vezes mais»!

Pe. Maicon A. Malacarne

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