É muito curioso como o evangelho de hoje (Mc 11,11-26) coloca Jesus dentro do movimento do dia: «já era tarde», «no dia seguinte», «ao entardecer», «na manhã seguinte». São expressões carregadas de sentido teológico que podem passar despercebidas. O «final do dia» acena para a dificuldade de encontrar a luz. O dia seguinte é a possibilidade da iluminação. Na verdade, não se trata apenas de «ou o dia ou a noite», mas perceber como ambos fazem parte da mesma realidade, da mesma nossa condição, que exige discernimento constante.
De fato, a figueira que não produz figos e o Templo que tinha se tornado «uma toca de ladrões» são condições da ausência da luz. Era preciso recriar, voltar ao sentido primeiro – «dar figos» e «ser casa de oração» – mesmo que isso exija morrer para nascer de novo ou derrubar para reconstruir.
A chave para encontrar os fachos de luz é a fé! A fé transforma o olhar – cura a cegueira. O evangelho inicia dizendo que «Jesus entrou no Templo, em Jerusalém, e observou tudo». A fé de Jesus, a oração constante, facilitam a experiência de observar atentamente o exterior e o interior. É aqui que nasce a transformação, a partir de uma nova forma de olhar, capaz de encontrar o que está atrás da máscara.
São João da Cruz no poema «A noite escura da alma» dizia que a escuridão da vida interior pode ser traduzida por uma «não-paz». A alma, na poesia, sai vagando pela noite para encontrar o Amado. A noite, ao mesmo tempo que esconde, é o lugar da busca. Noite e dia são uma condição que todos vivemos. É o olhar de Jesus que devolve o sentido, a razão, que recria a possibilidade.
A maior das graças, hoje, é essa: deixar Deus me olhar! Deixar Deus me olhar e recriar!
Pe. Maicon A. Malacarne