A celebração da Ceia do Senhor, porta de entrada do Tríduo Pascal, assinala que para sentar-se na mesa com Jesus é preciso, antes de tudo, aprender a lavar os pés uns dos outros! Esse gesto, narrado apenas no evangelho de João, é alguma coisa que inverte toda lógica do mundo – do poder, da grandeza, da ostentação – e coloca o centro um novo gesto assumido por Jesus: abaixar-se!
A tragédia com as 4 crianças em Blumenau, que nos faz perder o ar de tristeza, é uma denúncia à distância que a humanidade está tomando do amor, do serviço, do «abaixar-se». É exatamente o contrário do lava-pés: é a escolha da violência, da violação do outro e da sua instrumentalização para um determinado fim que não é fazê-lo mais feliz! A barbárie de Blumenau precisa ser um imperativo que muda nossos estilos de vida, nossa linguagem violenta, nosso instinto animalesco!
De fato, Jesus é o Deus que se abaixa! É o mesmo Deus do êxodo: «Eu vi o sofrimento do meu povo, eu desci para libertá-lo!» (Ex 3,7). O Deus libertador que «desce» é o Deus de Jesus que «se abaixa» para lavar os pés. O Deus de Jesus olha o pecador de baixo, não se coloca acima, não se enche de glória, porque a glória é a cruz, a glória é entregar a vida, a glória é amar sem medidas!
«Precisamos de lavadores de pés» é o título de um livro do Cardeal O’Malley. Ele sugere que a humanidade só será feliz quando aprendermos desse gesto! Celebrar a Eucaristia e o sacerdócio, hoje, é celebrar o desejo da vida feita dom, da vida realizada na entrega, de um ministério que não tem sentido quando não sabe se abaixar e se ofertar para os outros. Sem violar ninguém, tudo feito como dom.
Pe. Maicon A. Malacarne