No «Grande Serão: Veredas», Guimarães Rosa firmou: «liberdade é assim, movimentação…, mas liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no dentro do ferro de grandes prisões. Tem uma verdade que se carece de aprender, do encoberto, e que ninguém não ensina: o bêco para a liberdade se fazer». Pouco antes, nesta mesma obra, outra preciosidade: «Se vendo minha alma, estou vendendo também a dos outros.»
Diferente da liberdade que se anuncia em nossos dias, como uma categoria individual, isolada, travestida de «fazer o que eu quiser», a liberdade do poeta e, especialmente, d evangelho de Jesus Cristo é um caminho, uma «movimentação» e uma descoberta que carrega a dimensão pessoal, mas sempre vinculada ao outro e aberta a relação! A liberdade é o amadurecimento na direção do amor e o amor nunca é solitário e não existe amor distante do compromisso responsável com a verdade!
Esse tema complexo ajuda a evitar o perigo que o evangelho de hoje (Lc 17,7-10) coloca com categoria: fazer alguma coisa esperando ser recompensado! Jesus utilizou a imagem de um empregado e de um patrão para afirmar: «somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer». De primeira vista parece bastante agressivo, no entanto, o sentido não é afirmar a inutilidade da ação, mas a gratuidade, o fazer porque precisa ser feito, o fazer porque é compromisso de fazer! Lucas escreveu o evangelho muito próximo a lideranças comunitárias que desde sempre correm o risco de «fazer» para obter algo em troca e rapidamente esquecem do dom, de que o servir sempre vem antes.
Esse também é um perigo da vida de oração, da vida de fé – estabelecer com Deus uma relação de troca, de negociação – «eu rezo tanto para receber tanto». A oração é sempre um mergulho no amor, não uma negociação! A oração é uma escola de liberdade, porque foge dos dividendos e sugere discernimento, gratuidade e responsabilidade com a vida orante!
Pe. Maicon A. Malacarne