Se vivemos da seiva divina – qual ramos ligados a videira – um dos maiores desafios é continuar nessa intimidade: «permanecei no meu amor», diz Jesus no evangelho de hoje (Jo 15,9-11). Permanecer é durar, é demorar! Permanecer está na contramão do mundo acelerado e das relações líquidas, tantas vezes, reduzidas aos impulsos e desejos de satisfação pessoal.
A escola do evangelho recorda que todo amor nasce, cresce e amadurece das relações. De outra maneira: o amor é fruto da forma, do conteúdo daquilo que fazemos cada dia. Amor não é um ou outro gesto, é a tensão entre o percurso e a soma de tudo o que somos.
Um dos mais respeitados teólogos do nosso tempo, o checo Tomáš Halík escreveu que «Deus, talvez, esteja menos interessado em saber se acreditamos nele do que se o amamos!» Para ele, o contrário desse amor é o medo! A fé não cresce do medo, mas do amor! É sempre uma brisa suave aquela que é uma das mais emblemáticas expressões da mística de São João da Cruz: «no entardecer da vida seremos julgados pelo amor!» A pergunta que sintetiza tudo é: com quanto amor vivemos?
De fato, podemos contar toda a nossa vida pelo amor que dispensamos e pelo amor que guardamos, que reduzimos. O amor é uma biografia! É verdade que existem «amores» diferentes – pela família, pelos filhos, pelo namorado, pela esposa, pelo trabalho, pelo time de futebol. O amor que o evangelho traduz é aquele que sabe ser dom, amor gratuito, sem interesse, reconciliador e com conteúdo de estrada, de sandália, capaz de alcançar até os inimigos.
Esse é o amor que cura tudo, não obstante os ferimentos: «eu ponho o amor no pilão com cinza e grão de roxo e soco. Piso ele, faço dele cataplasma e ponho sobre a ferida», foi a forma da poetiza Adélia Prado traduzir o remédio que só o amor alivia!
Permanecer, permanecer, permanecer no amor…!
Pe. Maicon A. Malacarne