Estamos nas últimas linhas do evangelho de João (21,20-25). Continua o diálogo entre Jesus e Pedro, depois da ressurreição, com o convite a «apascentar as ovelhas», ou seja, tornar a vida uma proximidade ao «rebanho», as realidades mais concretas, na sintonia com aquilo que o Mestre mesmo fez: «deixou as 99 e foi atrás daquela que tinha se perdido» (Lc 15,4).
O texto volta-se, na sequência, para o discípulo amado, a imagem concreta da comunidade cristã que estava nascendo. De fato, a passagem recorda-o com nesse gesto: «aquele que tinha se inclinado sobre o seu peito!» Poderíamos dizer que esta é a síntese de todo o discipulado e de todo o seguimento de Jesus: permanecer perto do coração! Mais adiante, sobre o futuro do discípulo amado, Jesus usou uma das expressões mais queridas para a gramática joanina: «se eu quero que ele permaneça…»
O segredo do discípulo amado é esse: permanecer perto de Deus, inclinado sobre o seu coração, disposto a olhar para o futuro e disposto em permanecer! O discípulo amado transita entre a fidelidade total e a não banalização do amor! Trata-se de um amor que não pode ser vivido longe da «Videira verdadeira», qual ramo que quer dar fruto!
Permanecer exige intimidade! É difícil permanecer onde não há bem-querer, não há reciprocidade. Entre Jesus e o discípulo amado o permanecer está na comunhão, na proximidade que gera o amor! O chamado a permanecer é mais difícil quando tudo é descartável, tudo é rápido e passageiro. Escolher permanecer é escolher a contramão nesse momento da história!
Mário Quintana escreveu que «o amor é quando a gente mora um no outro!» É isso! Essa comunhão que rompe o isolamento, que descongela a frieza das relações, que nasce de dentro, é próprio de quem aprendeu a amar, a sair de si, a ser feliz com os outros! O coração de Deus é o lugar para, hoje, rezar! O coração de Deus é de onde vem toda a consolação, o Pentecostes sem fim! Veni, Creator Spiritus, dai-nos a graça de permanecer!
Pe. Maicon A. Malacarne