O verbo «permanecer», repetido seis vezes na leitura, pode ser um mapa para caminhar neste novo ano (1Jo 2,22-28). A sinfonia do Pai, do Filho e do Espírito Santo é marcada por um contínuo «permanecer» e que se abre ao convite que chega até nós: «permanecei nEle!». Tudo muda muito rápido, fazemos tantas coisas, trabalhamos muito, recebemos incontáveis informações, somos ativados a todo momento pelos nossos celulares, vivemos na velocidade máxima, de maneira atordoada, e tudo parece jogar contra o convite a «permanecer». De fato, «permanecer» é demorar! «Permanecer» pode ser conjugado pelo silêncio, pela espera, pela paciência, pelo tempo para a oração, pela fidelidade, pela amizade, pela escuta, pela maturidade de não se dobrar a satisfações momentâneas. A grandeza de João Batista é do tamanho da capacidade que teve de permanecer em Jesus (Jo 1,19-28).
A memória de hoje, dos Santos Basílio Magno e Gregório Nazianzeno é memória de uma amizade que permaneceu! Trata-se de dois Padres da Igreja que viveram na Capadócia, no quarto século, e que foram responsáveis por aprofundar a divindade das Três Pessoas da Santíssima Trindade, do meio da chamada crise ariana. Para além de toda robustez teológica e filosófica, é bonito regressar a essa amizade. De fato, o Ofício das Leituras de hoje convida a rezar um dos Sermões de São Gregório, que dentre outras coisas bonitas, testemunha a sua relação com Basílio: «éramos tudo um para o outro; morávamos juntos, fazíamos refeições à mesma mesa, estávamos sempre de acordo aspirando os mesmos ideais e cultivando cada dia mais estreita e firmemente a nossa amizade».
É verdade que «permanecer» também carrega o sentido de mudança! O permanecer não é estático, senão o contínuo movimento a viver a plenitude da vida. Relações violentas, agressivas ou abusivas, amizades que instrumentalizam, experiências que ameaçam a vida arrastam ao «permanecer» como movimento de transformação, uma metamorfose ao novo para «permanecer nEle»!