O milagre exige confiança e confiar é uma escola para toda a vida! Enganamo-nos quando pensamos que a fé só depende de nós, do esforço pessoal, da pretensiosa perfeição exterior. Confiar é abrir os olhos para o mundo ao nosso redor, para a vida vai desabrochando! Michelangelo dizia que antes de esculpir, diante do mármore, não via só o mármore, já via a escultura pronta, o seu trabalho era «libertá-la»! Outro poeta, das palavras, o Fernando Pessoa, registrou que «o essencial é aprender a ver (…). Isso exige um aprendizado de desaprender».
Os moradores de Nazaré, vizinhos, amigos e parentes de Jesus, não conseguiam confiar, narra o evangelho de hoje (Mt 13,54-58) e, por isso, «Jesus não fez ali muitos milagres». Eles tinham dificuldade de perceber alguma novidade naquele menino que cresceu no meio deles: «De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não moram conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?» Fechados, aniquilados por decisões já tomadas, por perguntas exteriores, os mais próximos de Jesus não conseguiam abrir espaço para confiar, para ver de verdade o que acontecia diante deles.
Nazaré recorda que a confiança é sempre um elemento do cotidiano, habitada pelas relações. A forma como confiamos em Deus deve estar em harmonia com a forma como confiamos uns nos outros, como nos relacionamos uns com os outros, de olhos abertos para a «Nazaré» de todo dia. O milagre, a escola de aprender a confiar, a maturidade da fé, passam pelo cotidiano, pelo habitual, pelo hoje, pelo amanhã, pela esposa, pelo namorado, pelos filhos e netos, pelo gato, pelo cuidado com a natureza, pela gentileza e pelo pedido de desculpas.
Essa é a fé que não impede o milagre!
Muito bom suas reflexões. Obrigada