Em «O idiota», Dostoievski escreveu que «a compaixão é a mais importante e, talvez, a única lei da vida para toda a humanidade». Nos últimos tempos, ganhou força a história da antropóloga Margaret Mead que sugeria como sendo o primeiro sinal de civilização um fêmur curado, ou seja, um sinal de cuidado e de compaixão. O fêmur é o osso mais longo do corpo, ligando o quadril ao joelho. Em sociedades sem os benefícios da medicina moderna, levava cerca de seis semanas de descanso para a cicatrização de um fêmur fraturado. Um fêmur curado mostra que alguém cuidou da pessoa ferida, fez sua caça e coleta, ficou com ela e ofereceu proteção física e companhia humana até que a lesão pudesse sarar. Tudo começou da compaixão!
O bom samaritano é o mestre da compaixão (Lc 10,25-37). A parábola contada por Jesus traduzia, na prática, a pergunta de um mestre da Lei: «quem é o meu próximo?» Para Jesus, a proximidade é o coração do Reino de Deus! Ao contrário do sacerdote e do levita, ou seja, de pessoas profundamente religiosas, é o samaritano, desprezado e herético para a cultura judaica, quem vive a essência da compaixão.
Três atitudes do samaritano traduzem o que significa a compaixão na prática: 1) ver – o sacerdote e o levita tinham perdido a capacidade de ver, ou seja, o outro tinha se tornado invisível, seu sofrimento tinha sido naturalizado. O samaritano, ao contrário, continua com o olhar atento; 2) Parar – é preciso dedicar tempo e isso é uma escolha. Os levitas e samaritanos dos nossos dias podem achar a desculpa no «tenho muitas coisas para fazer». A compaixão exige parada, que é mais, bem mais, do que sentir pena; 3) Tocar – é a aproximação por excelência! É o momento em que a compaixão é assumida como um repartir a dor, assumir a dor do outro como minha!
Se o primeiro sinal da humanidade foi a compaixão e o cuidado, não é possível pensar uma nova humanidade, reconciliada e pacífica, sem compaixão, sem esse empenho de cada pessoa com os outros, especialmente, com os caídos das beiras das estradas! Lúcia Mondela, prometida em casamento a Renzo, protagonista de um dos romances mais importantes da história italiana, Promessi Sposi, de Alessandro Manzoni, dizia que «Deus perdoa muitas coisas por uma obra de misericórdia».
Pe. Maicon A. Malacarne