O grande risco da fé cristã é falar muito de Jesus Cristo, mas viver pensando muito em si mesmo. Aliás, este é o perigo que assola as comunidades: falar, falar, falar, mas não transformar o pensamento sobre Jesus, não assumir o estilo de vida de Jesus! É que seguir Jesus, de fato, não é nada fácil! E seguir Jesus significa participar da cruz, ou seja, participar de uma dor que só o amor consegue entregar!
Pedro, no último domingo, formulou bem a resposta sobre a identidade de Jesus e foi elogiado: «tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja» (Mt 16,18). Na continuidade do evangelho, neste domingo, Pedro é repreendido fortemente pelo mesmo Jesus: «vai para longe de mim, satanás» (Mt 16,21-27). A pedra que deveria ser sinal da unidade, se tornou «pedra de tropeço». E Jesus explicou: «porque não pensas as coisas de Deus, mas as coisas dos homens». Jesus havia falado da proximidade da sua condenação e morte. Pedro, que carregava uma imagem ‘mundana’ de Messias, não conseguia entender e repreendeu Jesus. Pedro ajuda a compreender que não basta dizer que Jesus é o Messias, o Cristo, sem compreender ‘qual’ Messias, a sua verdadeira identidade.
Pedro, e cada um de nós, é convidado a «progredir» na compreensão de Jesus para dar o salto de um conteúdo exterior para uma verdadeira transformação integral, como escreveu Paulo aos Romanos: «renovando a vossa maneira de pensar e de julgar» (12,1-2). A imagem do fogo, que acompanha a vocação do profeta Jeremias, é emblemática! O fogo destrói, arrasa, mas possibilita vida nova: «senti, dentro de mim, um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar» (20,7-9). Deus é este fogo que arde, potência, grito, paixão, que Pedro tentou repreender, fugir, e, só mais tarde, depois da cruz e da ressurreição, é que conseguiu assumir, até a morte, como Jesus! Trata-se de perder a vida para ganhar mais vida, porque, como escreveu o grande Panikkar, «o perder liberta». De fato, em cada coração humano, está escondida a sede de Deus cantada pelo salmista: «vosso amor vale mais do que a vida» (Sl 62).
Pe. Maicon A. Malacarne