O Ofício das Leituras de hoje partilha um dos grandes sermões de São Carlos Borromeu, cuja memória celebramos hoje, e que já guarda no título um grande desafio: «Não sejas como quem diz uma coisa e faz outra». Uma das indicações de Carlos é: «foge, tanto quanto possível, das distrações!»
O Cardeal Tolentino, citando os Padres do Deserto, diz que «o maior de todos os pecados é a distração. A atenção é a atitude espiritual mais importante». E a atenção não significa uma vida sem graça, escassa de surpresas e de novidades. A atenção é tomar consciência de que a vida é muita coisa, mas não pode ser só uma repetição mecânica.
A excessiva busca de informações, de imagens, de ruídos, imediatamente ligada a dificuldade de distanciar-se do celular, de libertar-se das redes sociais, de desligar a tv para conversar com a família, de priorizar um encontro, de diminuir os grupos de WhatsApp são algumas das tantas distrações que estamos mergulhados. É a atenção, como atitude espiritual, que pode ajudar a equilibrar os excessos no rumo de uma vida mais moderada.
Até a distração, entendida como saída da normalidade, como tempo de fazer coisas diferentes, precisa ser acompanhada da atenção. Distraídos, podemos sempre achar justificativas de que «distrair faz bem» e permanecer mergulhados na distração. A distração vicia, acorrenta, domina, tira o foco do cotidiano e das coisas simples, das relações mais queridas, da fidelidade, da promessa, e as grandes utopias podem ficar reduzidas a um slogan sem sentido.
A atenção é um convite a espiritualidade integral, a valorização do silêncio, a uma vida mais simples e mais aberta, ao valor da amizade e das relações. Vencer a distração é vencer os murmúrios grosseiros, as palavras soltas sem direção, a agressão gratuita, ao mecanicismo que sempre repete as mesmas coisas.
Com São Carlos, meditemos as distrações e peçamos a graça de uma vida livre e feliz!
Pe. Maicon A. Malacarne