O silêncio é um patrimônio! No meio de tantos rumores, de tanta gritaria, o silêncio não deixa de ser um anti-herói! Até mesmo o clima das Igrejas, não raro, denunciam que carecemos de aprender a silenciar. Na literatura, há o chamado silêncio literário que é uma escolha que o escritor faz diante de determinada narrativa. Exemplo clássico é a relação de Bentinho e Capitu no célebre Dom Casmurro. Ainda hoje se busca decifrar e argumentar se Capitu traiu ou não Bentinho e raramente damos conta que o silêncio de Machado de Assis sobre o fato é o acontecimento principal. Não dizer nada é muita coisa!
É muito bacana que Jesus, no evangelho de hoje (Mc 4,26-34), falou sobre Deus na forma de parábolas ligadas a semente. Jesus chamou atenção para esse misterioso silêncio: «o semeador vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece». Esse é o mapa do silêncio: alguma coisa está acontecendo. Confiar é aprender a esperar!
Nem tudo passa pelas nossas mãos ou atravessa os limites dos nossos conceitos e das nossas verdades! Por mais que sejamos fortes, dispostos, observadores, futuristas, estudiosos da realidade, muitas coisas escapam. Há um mistério, «uma noite», um vazio que faz as coisas acontecerem. É esse também o lugar da graça de Deus que vai agindo onde quer e como quer, fugindo das nossas inteligências. Não se trata de não estudar, mas de compreender que há uma potência silenciosa que indica o aprender a acreditar mais!
É bonita por demais a oração de Eric Julien que sugiro para concluir nossa meditação como um convite ao descanso e a confiança total:
«Tenho problemas, Senhor, eu não consigo mais dormir. Como faz teu semeador para ir dormir e deixar a terra à noite? Sim, é verdade, és tu que a fazes brotar. Sim, é verdade, eu tenho tendência a me achar um pouco indispensável, e a te considerar como um pouco demasiado facultativo. São estas as minhas inquietações: eu deixo-as com minha terra que cresce tão mal. Finalmente, é teu trabalho. Eu, eu vou dormir um pouco».