Gregório Magno, Goethe, Dostoievski, Kafka, Camus, Jung, são apenas alguns dos grandes clássicos que falaram sobre o livro de Jó. De fato, os 42 capítulos no coração da bíblia, inspiraram e inspiram uma multidão! O que fazer quando o sofrimento bate na porta da vida? O poeta Lamartine traduziu: «Jó não é um homem, é toda a humanidade!»
A primeira leitura de hoje inicia com o grito de Jó: «maldito o dia que eu nasci e a noite em que eu fui concebido». Jó amaldiçoou todos! Mais do que perder o sentido da vida, de querer arrancar tudo, esse homem vive a tristeza de não querer ter nascido, de sentir-se mergulhado na desgraça!
Acontece que Jó, sendo um «homem íntegro e reto, que temia a Deus e se afastava do mal (…) o homem mais rico do oriente» (Jó 1,1-2), tinha perdido tudo: os 10 filhos morreram, a família toda desapareceu, toda sua riqueza se esvaiu, por fim, também sua saúde: «chagas malignas desde a planta dos pés até a cabeça» (Jó 2,7). É dessa situação que nasceu o grito de dor, de revolta, de luta contra a condição em que se encontrava.
O drama de Jó é o drama do sofrimento. De quem é a culpa? Por que sofrer? Melhor gritar ou silenciar? É curioso porque o livro na sequência apresenta o diálogo entre Jó e três «amigos». Na verdade, trata-se de uma poesia que confronta Jó e as explicações de diferentes campos do conhecimento. Um deles defende uma resposta profética, outro, uma resposta jurídica e, outro ainda, uma resposta sapiencial.
Mais do que as respostas que se podem ensaiar, a grande questão que o livro coloca é a capacidade de fazer perguntas. O grito não busca uma resposta, ele mesmo é uma metáfora! Jó testemunha que se pode experimentar Deus «lutando» com Deus, perguntando e argumentando com Deus! Com Jó, certa experiência romântica de Deus não tem espaço!
É no final do livro que se encontra uma das expressões mais emblemáticas de Jó, uma profissão de fé de quem mergulhou em Deus de dentro do sofrimento: «eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora meus olhos te veem» (Jó 42,5). Jó antecipou o que a paixão, morte e ressurreição de Jesus, o ápice do sofrimento humano, revelou para a humanidade e ajuda a expandir nosso olhar, nossos murmúrios e nossas infinidades de reclamações diárias. Outrossim, Jó alarga a compreensão das diversas experiências de sofrimento, de luto, de perda, que são sempre muito pessoais e que precisam ser respeitadas, amadas e consoladas sem julgamentos.
Pe. Maicon A. Malacarne
Amém, aleluia! Louvado seja Deus!