Cardeal Gianfranco Ravasi, emérito do Dicastério para a Cultura, escreve com frequência que uma das expressões mais repetidas na Bíblia é «não tenha medo!». São 365 vezes! Poderia ser comparado a um grande «bom dia» de Deus, em todos os dias do ano!
No evangelho de hoje, os discípulos estavam atravessando o mar com pequeno barco e começou uma ventania. Jesus não estava com eles e, em seguida, o viram caminhando sobre as águas e, muito assustados, escutaram: «não tenham medo!» O evangelho de João traduz o sentimento dos primeiros cristãos que eram intimidados pela força dos ventos da perseguição, da condenação, mas que, ao mesmo tempo, sentiam que Jesus estava bem perto, caminhando com eles (o mar era símbolo do mal e Jesus sobre as águas era tradução de que era mais forte do que toda a soma do mal) (Jo 6,16-21).
O medo é como uma moeda! De um lado, é a imagem do terror, porque o medo não nos deixa avançar, paralisa toda a ação. No primeiro livro da Divina Comédia, o Inferno, Dante fica apavorado com o que via e traduz como um ‘voltar’ para trás: «de medo, atrás os passos voltam agora!» De outro lado, o medo é um certo equilíbrio necessário que coloca limite para não nos acharmos os donos do universo.
Mia Couto, em uma conferência sobre segurança pública, em Estoril, dizia que o medo é patrocinado pelos poderosos, que, a partir da criação dos medos, criam monstros: «há quem tenha medo de que o medo acabe!» Já Graham Greene dizia: «tenho medo do homem que não tem medo». Hoje é Jesus quem repete para nós: «não tenha medo»! É uma consolação, um acalento! Ele repetiu ontem, repetirá amanhã e, toda vez, quando parecer que nada faz sentido!
Concluo com outros dois grandes que podem ajudar na oração: Martin Luther King, contou essa espécie de parábola: «um dia o medo bateu na porta, a coragem foi atender e não era ninguém». E Henry Newman: «Não tenha medo de que a vida possa acabar! Em vez disso, tenha medo de que a vida nunca realmente comece!»
Pe. Maicon A. Malacarne