«Eu sou o bom pastor», é a imagem utilizada por Jesus no evangelho de hoje (Jo 10,11-18). O original do texto bíblico seria: «eu sou o belo pastor»! Apesar de na língua grega «belo e bom» serem sinônimos, os termos indicam acentos diferentes – «bom» está mais ligado ao fazer, ao agir e «belo» está muito próximo ao ser, a um estilo. O fazer pode ser só exterior, uma máscara… o ser é sempre mais próximo a identidade, ao que é original. Platão, antes de Cristo, dizia que «a beleza é manifestação da verdade». A beleza não pode ser reduzida a uma ornamentação ou a uma decoração!
A beleza do pastor é a beleza do amor, a verdade mais genuína de Jesus: conheço as ovelhas, dou a vida por elas! Só o amor é capaz de «entregar a vida», só o amor é capaz de compreender o dom, que sempre é uma tensão, um paradoxo, uma luta contra os impulsos egoístas e mesquinhos que nos habitam.
Nada é mais bonito que o amor, o amor gratuito que supera a troca, a negociação, a satisfação pessoal, a instrumentalização do outro. Trata-se do amor mais maduro, mais difícil, mais verdadeiro! É preciso manter os olhos fixos no «belo pastor» para não perder de vista a vocação à beleza que todos somos chamados a responder, pelo nosso agir e, sobretudo, pelo nosso ser! O risco da feiura, ou seja, da distância da verdade e da originalidade daquilo que somos é uma tentação permanente!
O Dostoievski, conta a lenda, todos os anos peregrinava a Alemanha para contemplar uma obra de Rafael Sanzio, «Madonna di San Sisto» que ele chamava de «maior revelação do espírito humano». Era como uma terapia para não perder a esperança na humanidade. Ele repetia: «seguramente não podemos viver sem pão, mas é impossível viver sem beleza».
Temos tudo, pão e beleza, no Pastor de Nazaré!