O livro do Levítico é taxativo: “quem cometer adultério deve morrer” (20,10). Para fazer valer a lei, os escribas e os fariseus trouxeram para Jesus uma mulher “surpreendida em adultério” (Jo 8,1-11). O pedido desses homens religiosos é justo: ela deve ser apedrejada até a morte! Santo Agostinho compôs o cenário deste evangelho: de um lado os escribas e os fariseus, de outro lado, a miserável e a misericórdia.
O olhar de Jesus a essa mulher foi totalmente diferente, o olhar da compaixão! Não se tratava de pena, nem mesmo de justificar o erro cometido! Ao contrário dos legalistas que, com autossuficiência, olhavam de cima para baixo, o ângulo de Jesus é outro, é o da encarnação, sempre horizontal: “quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. A resposta de Jesus veio quando ele estava “inclinado”. É fundamental esse verbo! Jesus é o Deus que se inclina para ajudar a humanidade ser livre!
Jesus entendeu que aquela mulher era frágil, antes de pecadora! A fragilidade vem acolhida, assumida, amada, para que o pecado não se repita. Nossa pequenez não é um problema para Deus! É descobrindo o amor pelo qual fomos gerados que temos a oportunidade de responder melhor o dom que é a nossa vida. Um Deus legalista, que castiga e pune não deixa espaço para a liberdade e para o discernimento que supera o erro cometido!
Fr. Ermes Ronchi, em recentes Exercícios Espirituais a Cúria Romana, sobre este evangelho, dizia: “os escribas e fariseus acreditam em um Deus que rouba a liberdade em vez de oferecer possibilidades; acreditam em um Deus que se preocupa mais com sua lei do que com a alegria dos seus filhos; um Deus com olhar julgador, de quem fogem em vez de correr na sua direção; um Deus em quem eles não confiam! O primeiro de todos os pecados é o pecado contra a fé! Da imagem errada de Deus vem o medo dos medos: da face de um Deus do medo”.
O tempo da quaresma é momento privilegiado para jogar-se aos pés de Jesus e purificar a imagem de Deus que carregamos!
Pe. Maicon A. Malacarne