Matta El Meskin, uma das pessoas mais importantes da igreja copta ortodoxa, gigante autor espiritual, em uma obra recente chamada “Reencontrando o caminho”, ajuda compreender certa hierarquia que a fidelidade ao evangelho vai exigindo. Ele confessa: “Passei toda a minha vida praticando a verdade com meus irmãos, com a igreja, com as pessoas, com o mundo inteiro. Ao fazer isso, abandonei o amor. Somente neste ano, percebi que havia chegado a uma situação perigosa, ao ponto extremo em que a verdade pode chegar, a um ponto além do qual eu só teria recuado, jogando fora a experiência de uma vida inteira. O amor deve prevalecer. […] Por outro lado, se nos apegarmos à verdade, aos princípios, às regras, aos deveres, nunca saberemos se estamos realmente defendendo a verdade ou se é o egoísmo dentro de nós que está agindo. Será que os princípios que proclamamos, aos quais nos apegamos, são a verdade ou um conjunto de ideias pessoais? Não dá para saber”.
Meskin avalia a sua constante busca pelo amor e pela verdade. De fato, as coisas não são lineares, nem sempre são obvias e interrelacionais. A vida vai exigir, certa altura, de “calcular”, escolher, aprofundar, renunciar, para chegar aquilo que São Paulo recorda aos Romanos na leitura de hoje: “o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13,10). O amor é o degrau mais alto, a unidade do círculo, a potência do espiral da vida. É verdade que podemos trabalhar para aperfeiçoar muitos aspectos daquilo que somos e das nossas relações, mas, se tudo não convergir para o amor, faltou algo.
“Ser” discípulo de Jesus não é uma sorta de tarefas, mas um estilo de vida que se aprende na escola do amor e que é maturado na cruz: “se não renunciar tudo o que tem, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,25-33). Renunciar significa abandonar as máscaras, as falsas seguranças, o apego ao supérfluo e centrar-se no amor. É o amor o coração do discipulado!
Uma das grandes exigências da vida espiritual é amadurecer o que é primordial e o que é secundário. Fazer tudo, o tempo todo, é perder-se no caminho.
Pe. Maicon A. Malacarne