«Ser ou não ser, eis a questão!», é a primeira frase de Hamlet, a obra mais famosa de Shakespeare, no início do terceiro ato. O príncipe está diante do dilema da finitude, dos pensamentos suicidas, das dúvidas do pós-morte. As perguntas sobre o «ser» e o «não ser» acompanham a humanidade, as ciências e as religiões.
O evangelho deste domingo retorna com a figura improvável de João Batista que, por três vezes, perguntado sobre se era ele o Messias, respondeu: «eu não sou» (Jo 1,6-8.19-28). O sentido da vida do Batista se realizou em «não ser». De fato, mais adiante, ele vai confirmar: «é necessário que Ele cresça e eu diminua» (Jo 3,30). João Batista apontava sempre para Jesus! Uma vida descentralizada, penumbra na fronteira da luz, «voz que grita no deserto», no paradoxo do nada, no mapa do vazio: essa foi a estrada que João encontrou para viver uma fidelidade radical a vida. Foi porque não foi o centro que se encontrou! Foi porque apontou para fora que chegou ao seu interior, o lugar mais difícil de acessar.
O «ser ou não ser» de Shakespeare foi antecipado pelo «não ser e ser» do Batista. O ser-para-o-outro é a vitória do encontro e da relação porque a felicidade não mora na autorreferencialidade. De fato, somos sempre relação e na relação está a oportunidade de experimentar a alegria: «estai sempre alegres», recomendava São Paulo aos Tessalonicenses, na segunda leitura (5,16-24). A alegria, sublinhada na liturgia deste terceiro domingo do advento, gaudete, é o coração da vida nova doada pelo Espírito de Deus e, ao mesmo tempo, a meta para ser alcançada como estilo de vida!
O paradoxo da morte que envolvia Hamlet tem outro sentido na vida de João Batista e no mapa da boa notícia de Jesus Cristo – a morte é transformada em ressurreição – a minha pequenez é configurada por um todo maior – como um pequeno rio que chega no oceano. Este é o ponto! Quando não sou mais, sou de verdade! A alegria está completa!
Pe. Maicon A. Malacarne