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«Não haverá mais noite»!

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A primeira palavra de Deus no Gênesis é «faça-se a luz»! Se essa é a primeira palavra, poderíamos dizer que iluminar é a vontade inaugural de Deus! O psicanalista e estudioso de Lacan, Massimo Recalcati, que tenho lido abundantemente nesse tempo de estudos na Itália, ao aproximar a Palavra de Deus e a psicanálise, sublinha que a luz criadora vem carregada de pluralidade: «é somente através da luz da palavra que a pluralidade pulsante da vida aparece no horizonte aberto entre o céu e a terra». A luz é um mapa que exalta o diferente, que organiza o caos da escuridão!

Em espécie de contradição à luz, a Sagrada Escritura vai sugerir «a noite» como a escolha do caos, da distância de Deus. Quando na última ceia, depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus anunciou que seria traído, ativando uma reação em Judas, o trecho se encerra afirmando: «era noite» (Jo 13,30).  Depois da terceira negação de Pedro, com medo de ser condenado junto com Jesus, é possível ler: «o galo cantou» (Jo 18,27). Também a traição é obra da noite! É dentro dessa arquitetura simbólica que ganha outro sentido a afirmação de Jesus: «eu sou a luz» (Jo 8,12).

O último capítulo do livro do Apocalipse, da primeira leitura de hoje (22,1-7), retorna para a luz, através da profecia: «não haverá mais noite»! Tudo começa com a luz e tudo converge para a luz! Muito embora as nossas escolhas diárias, como as de Judas e as de Pedro, possam refletir o quanto «a noite» pode ser forte, a luz é o nosso lugar, é o lugar da fé, é o convite a abrir os olhos e a alcançar aquilo que os vícios de olhar sempre na direção da escuridão pode capturar!

Pe. Maicon A. Malacarne

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