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Na cruz de Jesus, as feridas do mundo!

No livro de Jó é possível ouvi-lo perguntar a Deus: «onde estás? Por que me abandonou?» Toda morte é um trauma! A palavra trauma tem na sua raiz o significado de torcer, perfurar, abrir uma ferida que pode demorar muito para sarar!

A Sexta-Feira Santa é um dia que perfura a fé! É o dia da ausência, do vazio, do trauma da morte: «meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?» Jesus experimentou a solidão do calvário, o medo dos seus amigos que fugiram, as lágrimas de algumas mulheres, o deboche dos soldados, as roupas repartidas, a nudez ridicularizada, os pregos, o martelo, a cruz. Nada de piedade com aquele «que passou pelo mundo fazendo o bem!»

No caminho do calvário a humanidade está do jeito que pode escolher ser: armada, violenta, sem escrúpulos em chicotear, blasfemar, cuspir, ridicularizar e matar, mesmo se forem crianças! O calvário é uma fotografia da condição humana, do que podemos nos tornar, do que pode crescer dentro de cada pessoa se não tomarmos consciência e exercitarmos o discernimento de cada dia!

A verdade, também, é que estamos todos feridos! Nós, herdeiros de Jó sempre voltamos a perguntar: «mas e Deus, onde está?» A certeza da cruz é essa: Deus está bem perto, bem perto! É solidário, é Pai, oferece sempre outros caminhos, outras liberdades e outras escolhas que não sejam aquelas do calvário como bem profetizou Isaías: «os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os vossos caminhos não são os meus caminhos» (55,8).

Jesus Cristo ressuscitado apareceu e «mostrou as feridas abertas» pelos pregos e pela lança na cruz. É um gesto que diz muito por que, de dentro das feridas, ou seja, nomeando-as, partilhando-as, repartindo-as, é que a cicatrização se torna possível! Esconder as feridas é deixá-las sempre abertas!

Na cruz, assumindo em tudo a condição humana ou, como escreveu o poeta Jorge Luís Borges, Deus, permitindo-se ser crucificado no Filho, ensina a levar a sério as nossas feridas!

Pe. Maicon A. Malacarne

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