Jesus realizou um gesto difícil e profético: «entrou no Templo e começou expulsar os vendedores» (Lc 19,45-48). Em seguida, disse: «minha casa será casa de oração». O Templo era o lugar do encontro da comunidade, mas que estava manipulado segundo muitos interesses: «fizestes dela um antro de ladrões». É verdade que a atitude de Jesus tem um valor exterior e que faz lembrar que as nossas comunidades precisam estar sempre atentas ao seu verdadeiro sentido.
Nessa meditação, porém, me ajuda rezar a possibilidade de alargar a «casa de oração» como a forma que estabeleço a relação com Deus. De fato, a casa é o lugar da proximidade, do sentido, da unidade do que somos. O Templo «que sou» também caminha na fronteira da manipulação de Deus para «fins pessoais», distanciando-se do compromisso de amadurecer um estilo de vida e de relação sustentados pela gratuidade e pela graça.
Não se trata de distanciar a fé da vida pessoal, mas de buscar alargar a fé e a vida, transformando a vida em uma «casa de fé». Na verdade, o risco de instrumentalizar a casa de Deus é o mesmo risco de instrumentalizar os amigos, o trabalho, todas as relações para um benefício próprio. Esta forma vai, aos poucos, tornando-se insustentável e insuportável.
Tornar a vida uma «casa de oração» e enfrentar o perigo de trapacear ou mascarar o vínculo com Deus significa assumir uma espécie de comunhão universal, de relação cósmica, que Rumi, um místico e poeta persa, do século 13, ajuda a rezar:
Esqueça o mundo e, portanto, comande o mundo.
Seja uma lâmpada, uma barco salva-vidas
ou uma escada.
Ajuda a cura de alguém.
Sai de tua casa como o pastor
Ajude a curar a alma de teu próximo.
Seja um pão bem assado,
seja o senhor da mesa
Você que tem sido a fonte da dor,
seja agora o deleite.
Você tem sido como uma casa sem alicerces
agora seja o Um que perscruta
o interior do invisível.
Assim que me calei uma voz chegou aos meus
ouvidos, «se te tornas isso, serás aquilo»
Silêncio e depois mais silêncio,
a boca não foi feita para falar.
A boca é para provar dessa doçura.
Pe. Maicon A. Malacarne