«É do fundo da minha miséria que eu toco Deus», escreveu Simone Weil. Toda pequenez guarda uma promessa. Toda fragilidade guarda uma promessa. Somos acostumados a relacionar Deus com coisas grandes, com perfeição, com uma santidade intocável e a escola do evangelho é sempre desconcertante: “O Reino de Deus é como a semente de mostarda (…). O Reino de Deus é como o fermento” (Lc 13,18-21). A semente de mostarda, a menor de todas; o fermento, que funciona quando “desmanchado” na farinha, são a nova cartografia de Deus, desenhada por Jesus.
Na semente e no fermento não está o triunfalismo, o exagero, mas alguma coisa que precisamos aprender sempre de novo: a gradualidade. A semente e o fermento exigem espera, paciência, liberdade, tempo e adaptação a realidade para realizarem a sua função.
Como a vida, o Reino de Deus é gradual, é mais caminho do que ponto de chegada e todo ponto de chegada é um novo ponto de partida. O serviço ao Reino de Deus não pode focar na linearidade – planto hoje, colho amanhã – porque geralmente as coisas escapam os ritmos determinados. Deus gosta das surpresas e o seu mistério é sempre novidade.
Como o Reino anunciado por Jesus, toda vida é gradualidade. Um relacionamento é gradual, com altos e baixos, que exige tempo e liberdade, paciência e confiança. A educação é gradual. A comunidade é gradual. A vida social é gradual. A gradualidade partilhada pela página do evangelho de hoje ajuda a assumir a fragilidade como ponto de partida. Trata-se de viver aquilo que somos, nossa humanidade, nossos limites, sem mascarar nossas tragédias, para deixar que a promessa de Deus se realize em nós e no mundo.
Pe. Maicon A. Malacarne