A brecha é uma poesia! A brecha é «o véu do Templo que se rasgou», é o «túmulo vazio», é o «pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus deixado ao lado», a brecha é o lugar por onde passa a Ressurreição! É onde Deus surpreende! Quando tudo parecia sufocado, vem um verdadeiro sopro de vida! Leonard Cohen, um dos maiores músicos e poetas de todos os tempos, em uma letra chamada «Anthem», escreveu: «há uma fenda em tudo! É assim que a luz entra!» De outra maneira, Giorgio Agamben, chamou a brecha como o lugar da democracia e por onde somos chamados a discernir entre a luz e a escuridão!
Tudo estava fechado ao redor dos discípulos, escondidos e com medo, lutavam contra o desânimo com a crucificação! O evangelho de hoje (Jo 20,19-31) narra a presença de Jesus Ressuscitado no meio deles, acompanhada de gestos muito particulares: soprou, retomando o gesto criador do Gênesis, convidou Tomé a tocar as feridas dos pregos, pediu para superarem o medo e serem comunicadores do amor e da misericórdia no mundo!
Jesus Ressuscitado é a fenda que encontra lugar quando tudo parece estar trancado, Jesus Ressuscitado é o sopro que desfaz o sufocamento, Jesus Ressuscitado é a testemunha de que toda ferida precisa ser tocada para que a fé seja integral!
Quantas vezes na vida também nos sentimos assim: trancados, sufocados, com medo de dar qualquer passo e voltados para um desmoronamento de sentido! Jesus Ressuscitado é quem nos diz hoje: «em tudo há uma luz», «em todos os lugares existem sinais de ressurreição»… procura, procura pela luz, pelo fio de luz que muda tudo!