Em 1933, o escritor japonês Junichiro Tanizaki lançou uma obra fascinante chamada ‘Elogio da sombra’. Se o mundo ocidental sempre aproximou a estética da luz, opondo-se a escuridão e fixando-se sobre este dualismo, o oriente teceu a beleza a partir dos efeitos das sombras. Tanizaki descreve a experiência da ‘luz da sombra’! Genial!
A Igreja celebra, hoje, o apóstolo Bartolomeu. O seu chamado é marcado por um detalhe muito curioso: Filipe tinha encontrado Jesus e foi contar para Natanael – mais tarde, identificado como Bartolomeu – que, cheio de dúvidas, questionou: «de Nazaré pode sair coisa boa?» (Jo 1,45-51). Filipe se limitou a dizer: «vem ver!». Quando foi ao seu encontro, Jesus disse a Natanael: «antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi». Jesus alcançou Natanael onde ele estava, descansando na sombra de uma figueira! Com Tanizaki e Bartolomeu, é possível tecer o ‘elogio da sombra’, ou, afirmar a sombra como lugar da fecundidade espiritual.
Este «eu te vi debaixo da figueira» é muito potente! A sombra é onde tudo começou, o lugar do descanso, do cotidiano, depois do trabalho da pesca. O olhar primeiro de Jesus vem acompanhado de um interlocutor, Filipe, que provoca a ‘sair da sombra’ e ir até Jesus! A sombra e a relação compõem o fio da vocação de Bartolomeu – do descanso, do ‘esconderijo’, para o movimento de encontrar Jesus, de confiar, e de nunca mais deixar de segui-lo.
A coragem de ‘assumir a sombra’ é muito importante! Trata-se de assumir o meu lugar no mundo, o meu cotidiano, o meu paradoxo, a minha tentativa de camuflagem, as minhas dúvidas e permitir deixar-se tocar pelos sinais de Deus. Talvez, pela corajosa forma de admitir a verdade da sombra, Natanael mereceu um dos maiores elogios guardados pelo evangelho: «aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade».