A Lei em Jesus ganha um outro sentido! Dizer isso não significa afirmar que, para Jesus, a Lei não era importante. Jesus não rompeu com o Antigo Testamento, com o Decálogo, com os profetas, mas em Jesus tudo ganha uma dinâmica nova. Passa-se do cumprimento das normas para uma identidade configurada a Jesus.
Seguir Jesus não é seguir doutrinas, mas é manter os olhos fixos n’Ele! A consequência é configurar a vida ao evangelho que, necessariamente, se traduz na abertura ao amor! O risco é pensar, como os fariseus, que basta ser fiel a letra, aos números e aos códigos. A linha é tênue, mas a lei pode deixar na exterioridade e seguir Jesus Cristo é muito mais do que feitio!
Jesus foi crítico ao legalismo, mas não por causa da Lei com letra maiúscula, senão pelo esforço de tornar a lei, minúscula, apenas aparência, sem o compromisso que efetivamente nasce de toda Lei. A Lei é um caminho, um itinerário, é como uma demarcação que equilibra a vida, mas sempre aberta, sempre com chave de interpretação. No legalismo não cabe o amor, não cabe o perdão, não cabe a paciência, não cabe a espera, o impulso pelo apego ao raso é sempre maior.
Quando Jesus afirmou que não veio para abolir a Lei, mas para dar cumprimento (Mt 5,17-19) é a dimensão da profundidade que supera a aparência e a frieza que está em jogo. O Espírito da Lei é mais importante, ou seja, a profundidade, o significado, a intuição.
É preciso muito cuidado quando tornamos a fé uma mistura de normas, mandamentos e restrições e esquecemos de ver num gesto cotidiano de cuidado, de atenção, de hospitalidade o mesmo Espírito de Deus que ultrapassa a letra e se traduz em vivência do amor. Trata-se da sempre nova passagem do «tu deve» para o «seja o que você é»!
Pe. Maicon A. Malacarne