Adélia Prado começa um dos seus salmos anunciando: «Tudo o que existe louvará». O louvor é um grande alfabeto! Dia depois do outro, é preciso aprender os seus códigos, tatear sua presença invisível, arrancá-lo nos esconderijos de algum canto de nós. A vida desatenta não louva, não gosta de louvar porque o louvor é livre, é fugitivo, precisa de uma vida inteira.
No evangelho de hoje Jesus disse uma coisa tremenda: «Com quem vou comparar esta geração? São como crianças sentadas nas praças, que gritam para os colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta e vós não dançastes. Entoamos lamentações e vós não batestes no peito!» (Mt 11,16-19). Este é o perigo da distração, o risco da vida ausente: as coisas acontecem na nossa frente, a vida está correndo na beirada da nossa história, e estamos olhando para o outro lado. A pressa é tão grande que o antropólogo David Le Breton reflete sobre o mapa da fuga – quando estamos correndo demais, queremos sempre fugir, fugir de nós mesmos, fugir do mundo.
Adélia Prado convida a assumir a vida integralmente a partir do louvor! Convido para finalizar essa meditação com o seu salmo, deixando que cada palavra nos ajude a tomar consciência das nossas distrações e ofertá-las na mesa da nossa fragilidade:
Pe. Maicon A. Malacarne