Mateus era um cobrador de impostos e, portanto, considerado traidor pelo seu país porque recolhia as taxas de Israel para entregar aos Romanos. É sobre esse homem que Jesus lança um olhar: «Jesus viu um homem chamado Mateus».
Alguns bons religiosos logo se perguntaram: com tanta «gente do bem», como que Jesus colocou atenção sobre um pecador desse nível? Jesus não tinha dificuldade com os limites de uma pessoa. Aliás, ao sublinhar a misericórdia, Jesus colocou no centro do amor as falhas, os erros, os pecados que são nossas companhias do início ao fim da vida.
A misericórdia alarga o espaço da mudança, da conversão de vida que não é outra coisa senão reconhecer nossa pequenez. Do ponto de vista do evangelho, a metanoia não é uma vida sem erros, moralmente perfeita, mas a consciência de ser o que se é, amadurecendo cada dia um pouco mais.
É preciso tomar muito cuidado com o discurso sobre santidade que coloca um peso sobre os ombros dos outros, numa obrigação de pureza total, apagamento de todo limite, mais parecido com uma máscara sobre outra máscara para esconder o que está por baixo. Não, a misericórdia é ser, ser nas imperfeições que fazem parte do cotidiano! É ao reconhecer-se pecador que Mateus abriu espaço para o amor!
Parece escandalosa de tão real a perspectiva do poeta francês Christian Bobin: «a santidade tem tão pouco a ver com a perfeição que é o seu absoluto oposto. A perfeição é a irmã mimada da morte. A santidade é o forte sabor da vida como ela é – uma capacidade infantil de se alegrar sem pedir mais nada.»
Da França também é a poetisa Marie Noël que ajuda a rezar o «nada» da nossa vida que pode ser o «tudo» de Deus:
«- ‘Estou aqui, meu Deus, procuravas-me? Que queres fazer de mim? Não tenho nada para te dar. Desde o nosso último encontro não pus nada de parte para ti: Nada, nem sequer uma boa ação ou uma boa palavra. Estava demasiado triste. Nada, a não ser o desgosto de viver, o cansaço, a esterilidade’.
– ‘Dá-me as tuas misérias!’.
– ‘ Senhor, mas então Tu, como um recolhedor de trapos, recolhes todos os refugos. O que queres fazer deles?’.
– ‘O Reino dos Céus!’»
Pe. Maicon A. Malacarne