No Livro da Vida, Santa Teresa D’ávila narra uma das suas maiores experiências de Deus com um jogo de palavras tremendo: «o anjo me encorajava a descer para cima». Trata-se de alguma coisa genial: descer é submergir! É deixar-se envolver de si, do interior, do mundo mais real e concreto de todos – aquele que somos! Quanto mais «descemos», mais «estamos no alto»! Quanto mais perto da vida, mais perto do céu!
Etty Hillesum, do meio do horror do campo de concentração nazista, via necessidade de «desenterrar Deus do coração». Isso só era possível com um grande mergulho para dentro. Descobriu, assim, que só conseguiria «desenterrar Deus do coração dos outros», na mesma medida em que adentrava em seu interior. Dentre os nomes que dava para esse exercício estava a «higiene da alma», esse percurso de cuidado e promoção interior. De Etty chega até nós uma das mais gigantes vozes de enfrentamento ao ódio dos torturadores, pelo caminho da reconciliação!
No evangelho de hoje, Lc 17,20-25, respondendo à pergunta dos fariseus sobre a chegada do Reino de Deus, Jesus disse: «O Reino de Deus está entre vós». Outras traduções preferem: «o Reino de Deus está no meio de vós», e, «o Reino de Deus está dentro de vós». Todas elas sugerem, com mais ou menos intensidade, que o ‘projeto’ maior vivido e anunciado por Jesus é descobrir-se já habitados pelo divino e caminhar para que ampliemos os espaços do amor em nós! De fato, já Santo Agostinho escrevia: «Deus está mais perto de mim do que eu mesmo».
Hoje a oração é um convite a retornar para si! Tudo aquilo que anunciamos «para fora» é fruto de um caminho «para dentro»? A paz que falamos é a paz que vivemos? É certo que as coisas não estão descoladas ou são gavetas separadas, mas é nessa integral-unidade que ampliamos os canais da graça de Deus na nossa vida, desde dentro!
Pe. Maicon A. Malacarne
AMÉM