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Desarmar os tantos murmúrios!

O evangelho de hoje (Jo 6,52-59) continua com o discurso de Jesus sobre o pão e inicia com um murmúrio, uma reclamação dos judeus. Esse grupo representa os que tinham dificuldade de entrar na nova dinâmica de vida proposta por Jesus! Para nós, hoje, essa atitude de murmurar é um convite a reflexão e a oração!

O murmúrio pode ser legítimo quando é uma forma de traduzir um protesto ou uma crítica justa. A atenção é para que a vida não se torne um murmúrio constante, porque toda palavra pode se tornar reclamação, azedume sem fim. É certo que vivemos momentos e condições distintas e há dias que parece impossível não reclamar, mas cair na cultura do murmúrio é um atentado a existência, ao presente e ao futuro. É que o murmúrio não deixa ver as coisas como elas realmente são!

A literatura guarda expressões muito curiosas sobre o murmúrio, de Platão a Kafka, e mesmo na tragédia de Shakespeare, Hamlet, o príncipe da Dinamarca, em determinado momento da peça começa a murmurar: «palavras, palavras, palavras, apenas palavras que desaparecem no ar porque não contêm nada, nascendo do nada que tem dentro.» Em seguida, reconhece que «cada murmúrio é um desastre!»

A murmuração é recorrente na Sagrada Escritura. A caminhada pelo deserto do povo de Israel, conduzido por Moisés, é recheada de murmúrios: reclamam da sede (Ex 15,24; 17,3; Nm 20,2), reclamam da fome (Ex 16,2; Nm 11,4), reclamam dos perigos (Nm 14,2). Mais tarde, Paulo, escrevendo a comunidade de Filipos, desafia: «fazer tudo sem murmurar!» (Fl 2,14). Trata-se de um estilo de vida que não sugere apatia, mas uma vigilância que ultrapassa o vício das murmurações e dá lugar para a comunhão das diferenças.

O convite a oração de hoje é revisitar a vida e perceber o risco do exagero de murmúrios. Desse lugar, desarmá-los, para seguir com mais liberdade na fidelidade ao evangelho!

Pe. Maicon A. Malacarne

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