O desapego é uma chave fundamental da espiritualidade! O acúmulo, a ganância, o exagero de exterioridades são sempre uma máscara que pretende esconder alguma coisa. Maquiam a realidade! O resultado é o império da superficialidade, do disfarce e a promoção do consumo que tem deixado as pessoas doentes, dependentes, viciadas, cansadas…
O evangelho de hoje, Lc 17,26-37, coloca Jesus em diálogo com os discípulos sobre a vida futura. Para isso, retomou acontecimentos do passado como a história de Noé e de Ló e, em seguida, reafirmou: «quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la e quem a perde vai conservá-la.» Jesus estava falando da vitória do desapego, ou, da vitória de quem deixa cair o primado do exagero e da superficialidade.
Para a espiritualidade de Jesus trata-se de soltar tudo, esvaziar-se de tudo, fazer-se simples, humanizar-se de tal maneira que eu consiga reconhecer no outro o meu irmão, na terra a minha irmã, em toda a vida uma conexão profunda. Quando a intenção é acumular, o outro é adversário, a terra é tão somente instrumento de lucro, e assim por diante! É aqui a chave de que «ganhar é perder»!
Pensemos também nos acúmulos interiores, relações mal vividas, perdões dispensados, amizades traídas, raiva, ira, impaciência. Isso tudo fica guardado em alguma parte do corpo é também aqui que Jesus ajuda a configurar o amor: largar o que sobrecarrega, deixar desmoronar os pesos, perdoar, reconciliar, acalmar, respirar, rezar…
Os orientais preferem falar de uma espiritualidade do vazio. É o vazio, e não o excesso, que assinala a maturidade na relação com Deus. De excesso, somente o amor!
Pe. Maicon A. Malacarne