O breve evangelho de hoje (Mc 3,20-21) coloca um movimento fundamental da fé cristã e da espiritualidade de Jesus Cristo. Atentemos para dois movimentos: os de fora e os de dentro! Jesus «voltou para casa com os discípulos». Estar em casa é ser casa, ou seja, dividir um itinerário de vida. A casa adquire o lugar da comunidade nascente. Na proximidade e no vínculo da casa, com Jesus, se formavam os primeiros cristãos.
Outras pessoas «saíram para agarrar Jesus». Trata-se de um grupo que estava «do lado de fora». Desde o início do evangelho, Marcos assinalou as muitas resistências que Jesus enfrentou dos fariseus, dos doutores da lei e partidários do rei Herodes. O texto de hoje sublinha um outro grupo: «dos parentes de Jesus» que o acusam de estar «fora de si»! É muito curioso: os de fora apontam para Jesus, que estava dentro, como alguém de fora!
O imaginário afetivo geralmente colocaria os parentes «do lado de dentro», mas não, não bastava ser parente, amigo, conhecido de Jesus, nem mesmo «ter visto» os milagres ou ter participado da celebração na Sinagoga e das ofertas do Templo. A questão central é «estar/ser de dentro», é fazer parte de uma comunidade nova cuja arquitetura é o amor! A Igreja de Jesus Cristo é a casa do amor!
Sejamos atentos, muito atentos a isso! Porque se a nossa fé permanece na fronteira da casa, apegados a externalidades, talvez também estejamos «do lado de fora»! O salto para «dentro» é um exercício cotidiano de abertura, de mergulho, de fidelidade a Deus, sem esquecer que a porta de passagem, sempre aberta, é o rosto da humanidade! Estar «dentro» é expandir o divino e o humano que mora em nós!