Ló era sobrinho de Abrão e ambos possuíam muitas riquezas! Com o passar do tempo, os conflitos foram aparecendo entre os pastores de Ló e os pastores de Abrão de maneira que não conseguiam mais «morar juntos». Abrão, então, sugeriu: «não deve haver discórdia entre nós… somos irmãos!» E propôs que se separassem, cada qual em uma região, a fim de garantir a paz. A proposta de Abrão dava prioridade para a escolha de Ló: «se fores para a esquerda, eu irei para a direita». É muito profunda essa história contada pela primeira leitura (Gn 13,2.5-18).
De fato, para que a discórdia seja vencida, Abrão escolheu dar a precedência a Ló. Esse passo é fundamental! O segundo lugar é o lugar que exige um discernimento maior, o discernimento da «sobra», muito próprio de quem acredita que há lugar para todos! A escolha pelo lugar mais difícil é uma antecipação daquilo que Jesus ensina no evangelho (Mt 7,6.12-14): «entrai pela porta estreita». Abrão é a imagem de quem prefere a porta estreita, mas escolhendo o que é mais apertado, demonstra uma grande esperança na vida: «como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida».
Escolher dar a precedência ao outro é uma tarefa muito exigente! Pensemos no cotidiano da nossa vida se a tendência não é sempre querer tirar proveito, ficar com a melhor parte, destruir qualquer pessoa que ofereça algum risco. Essa «porta larga», caminho mais fácil, é a via da desumanização que tem feito sofrer muito! O que Jesus propõe é uma virada profunda – escolher o mais difícil para me tornar mais próximo a condição humana! Não se trata de um elogio ao sofrimento, mas de um sentido profundo que só pode ser explicado na cruz, «escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas para todos os chamados, poder de Deus e sabedoria de Deus» (1Cor 1,23-24). O segundo (último!) lugar é o lugar do serviço, é o lugar do amor! É ali que Deus realiza o maior milagre: «abre os olhos, tudo que vês eu darei a ti e a tua descendência».
Pe. Maicon A. Malacarne