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Continua chamando!

O texto da primeira leitura parece dizer que não é que Deus deixou de se comunicar conosco, somos nós que estamos com os ouvidos ofuscados para escutar a sua voz (1Sm 3,1-10). Samuel, o filho desejado na oração de Ana, tornou-se um profeta do Senhor, mas teve de aprender a discernir, com ajuda de Eli, a sua voz. De fato, nas primeiras vezes que «foi chamado», achava que era Eli quem chamava, mais tarde, descobriu que era a forma de Deus comunicar-se com ele. Esta maturidade foi facilitada por Eli, um guia, um mestre, que entendeu antes de Samuel aquele sinal.

Deus continua comunicando-se no espaço e no tempo! Não deixa de chamar, de comunicar-se, de manifestar os seus sinais. O tumulto da vida tem tirado nossa sensibilidade para, como pedia o Concílio Vaticano II, «ler e aprofundar os sinais dos tempos». A falsa segurança remete o apego ao passado. O passado deve oferecer as raízes, os fundamentos, as tensões da memória, mas o caminho nunca será «voltar». A voz de Deus não ficou no passado, é nosso ouvido, ouvido da Igreja, que precisa sempre ser aguçado na proximidade da vida das pessoas.

O evangelho apresenta, nesse sentido, um movimento teológico e eclesiológico fundamental: «Jesus saiu da sinagoga e foi para a casa de Simão e de André» (Mc 1,29-39). A sogra de Simão estava doente e Jesus «se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se». O estilo de vida de Jesus – conteúdo e forma, como reflete o Christoph Theobald – será sempre a bússola para compreender o «jeito» de Deus se comunicar – na proximidade, na compaixão, sempre com os sinais da Páscoa: levantar-se!

Não se trata de colocar em oposição a sinagoga e a casa, a instituição e o cotidiano, senão de perceber que em cada ambiente Jesus traduz o rosto de Deus que transfigura a história. Ele continua chamando a participar deste movimento «de fazer novas todas as coisas».

Pe. Maicon A. Malacarne

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