Nas portas do início da quaresma, o evangelho de hoje não poderia deixar de oferecer uma chave mais interessante: nossa vida não pode ficar no raso, no achismo, é preciso o «passo a mais» da fé. Na decisão de «passar para a outra margem», Jesus percebeu que a crise de abertura a sua proposta não era apenas da parte dos fariseus e dos mestres da Lei, também os discípulos não eram capazes de se abrir: «vós tendes o coração endurecido? Tendo olhos, vós não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis?» (Mc 8,14-21).
Trata-se do grande perigo de uma espiritualidade monótona: coração, olhos e ouvidos fechados! É muito fácil cair nesse buraco! A insensibilidade tira a capacidade de humanizar-se! Os padres do deserto insistiam que «o maior de todos os pecados é a distração». De fato, a distração faz esquecer de abrir o coração, os olhos, os ouvidos e preferir repetir sempre os mesmos movimentos, sem deixar espaço para nenhuma novidade.
Simone Weil dizia que o mais alto grau da generosidade é a atenção! Não é fácil articular uma vida atenta, mas é a atenção que pode ativar o coração, os olhos e os ouvidos para entender e compreender os sinais dos tempos. É tremenda a última pergunta de Jesus no texto do evangelho: «vós ainda não compreendeis?». Compreender é uma tarefa que todo seguidor de Jesus não pode terceirizar. Trata-se de «estar prontos para dar razão da vossa esperança» (1Pd 3,15), ou permanecer na margem de uma vida fechada sobre si mesma.
Pe. Maicon A. Malacarne
Pe. Maicon com essa reflexão acho que tenho que fazer silencio e perceber que estou como os discípulos com dificuldade para entender o que Jesus pede a mim também.