Com a tragédia do século passado, do meio dos campos de concentração e no horror das guerras, alguns autores sugeriram a experiência de «ajudar Deus» a construir um novo tempo. A onipotência divina é atravessada pela responsabilidade do ser humano em fazer o bem.
Etty Hillesum registrou, como oração, em seu Diário, dias antes de ser morta em Auschwitz: «são tempos temerosos, meu Deus. Esta noite, pela primeira vez, passei-a deitada no escuro de olhos abertos e a arder, e muitas imagens do sofrimento humano desfilavam perante mim. […] Vou ajudar-te, Deus, a não me abandonares, apesar de eu não poder garantir nada com antecedência. Mas torna-se cada vez mais claro o seguinte: que tu não nos podes ajudar, que nós é que temos de te ajudar, e ajudando-te, ajudamo-nos a nós próprios».
Outra mulher, Simone Weil, falava da espera de Deus pela resposta amorosa de cada pessoa: «Deus espera com paciência que eu queira, finalmente, consentir em amá-lo. Deus espera como um mendigo que fica de pé, imóvel e silencioso, diante de alguém que talvez lhe dê um pedaço de pão. O tempo é essa espera. O tempo é a espera de Deus que mendiga o nosso amor».
Essas duas mulheres mortas, uma pelo nazismo e outra em um sanatório pelas consequências da guerra, estavam unidas a Maria Madalena, Joana, Suzana e outras muitas mulheres, conforme o evangelho de hoje (Lc 8,1-3), que, mais com a vida do que com bens materiais, «ajudavam Jesus» que andava pelas cidades e povoados anunciando a boa notícia de Deus!
Na contramão da passividade, da espera mágica, da retribuição e do mérito, as mulheres estão dois, três passos à frente! Com as mulheres e com o evangelho, a oração de hoje é atravessada pelo desafio de colaborar ‘com Deus’ a partir de nosso estilo de vida.