«Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade!» Temos de concordar que esse é dos maiores elogios que Jesus deu a um dos seus apóstolos. Trata-se de Natanael, um dos 12, que, segundo certo consenso dos estudos bíblicos, é Bartolomeu, cuja festa se celebra hoje!
Natanael era um pescador e descansava na sombra de uma figueira quando Filipe chegou e falou sobre «um tal» Jesus, que tinha acabado de encontrar. Filipe se referiu a Jesus como Messias, o Messias de Nazaré! Natanael logo soltou: «pode sair coisa boa de Nazaré?» De fato, Nazaré era das mais insignificantes regiões da época e esperava-se um Messias de Jerusalém, da capital.
A desconfiança de Natanael é bonita porque traduz uma busca profunda, um ceticismo carregado de discernimento! Se Natanael fez um primeiro movimento de «sair de baixo da figueira» pelo fundamental testemunho de Filipe, é a relação com Jesus, desde a sombra, que abriu espaço para a confiança.
O movimento de Natanael é um movimento espiritual: sombra – relação! Não se trata de dizer que a sombra é ruim e que só depois de sair dela é que a vida mudou! É da sombra da figueira que tudo começou! A sombra é o lugar da fecundidade! Sair dela e voltar para ela é o paradoxo de esconder-se e revelar-se. Infelizmente nossa visão sempre dualista separa – sombra e luz – bem e mal – e cada vez mais a vida vai mostrando que tudo está em tudo. Onde está o início da sombra? Onde está o fim da luz? Há um ser humano que pode definir essas linhas? Rainer Maria Rilke traduziu isso da maneira mais bonita possível em poesia: «se meus demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também».
O certo é que Natanael viveu da sombra e da luz! Deixou crescer a sombra e deixou crescer a luz! Assumir as sombras é uma das mais exigentes tarefas da espiritualidade! Talvez tenha sido essa sinceridade de mergulhar na sombra que mereceu o elogio de Jesus. Ele mesmo mais tarde ensinou: «deixem o joio e o trigo crescerem juntos» (Mt 13,30).