No início da fé cristã está uma visita! Toda visita é uma forma de ampliar a vida, de alargar um círculo! A visita arrasta para «fora»! Hoje, último dia de maio, mês de Nossa Senhora, a Igreja celebra a visita de Maria a sua prima Isabel, logo depois que aceitou ser a mãe do Salvador!
O texto do evangelho (Lc 1,39-56), é muito bonito e vale à pena tirar um tempo para saboreá-lo. Quero parar sobre um aspecto inicial da narrativa: «Maria partiu para uma região montanhosa». Isabel morava distante com Zacarias! Tratava-se de um casal idoso e sem filhos e, pela graça de Deus, Isabel se encontrava grávida de João Batista. O encontro de Maria e Isabel, o afeto de duas mulheres grávidas compõe cenário da visitação! Para que isso fosse possível, Maria precisou «atravessar a montanha».
A vida nem sempre é linear e as montanhas são uma metáfora da descontinuidade, a necessidade de amar o desnível, de dar sentido aquilo que não é «planície». As «montanhas» atravessam as nossas relações e recordam que visitar, aproximar, compreender, servir, não é uma tarefa simples e fácil, não é um «fazer de qualquer jeito».
As «montanhas» impedem encontros, convivências, ofuscam a verdade do outro. As «montanhas» são as imagens que fazemos, os preconceitos que alimentamos, o idealismo que guardamos. Maria, ao atravessar a montanha, coloca no princípio da fé a busca por aproximar-se e conhecer a identidade do outro. Não é possível fazê-lo sem escalar «montanhas» para chegar mais perto.
Infelizmente, precisamos reconhecer que, muitas vezes, gastamos tempo demais e esforço demais para procurar terra e pedra afim de tornar as montanhas ainda mais altas e intransponíveis. Trata-se do caminho oposto ao de Maria. Não é por acaso que estamos cada vez mais isolados, sozinhos, doentes, depressivos, viciados nas redes sociais, desanimados!
A superficialidade da «planície» precisa ser provocada pela ousadia da «montanha». Não há fé sem visitação, não há fé sem «montanha». Trata-se de um «sair de casa» contínuo. A Igreja em saída é a Igreja de Maria, de Jesus, da humanidade que não escolheu ficar pisoteando a mesma «planície».
Pe. Maicon A. Malacarne