No início de tudo está uma visita! Toda visita é uma forma de ampliar a vida, de alargar um círculo! A visita arrasta para fora! O texto do evangelho de hoje apresenta a imediata visita de Maria, depois da anunciação, a sua prima Isabel (Lc 1,39-45). É um texto muito bonito e vale à pena tirar um tempo para saboreá-lo.
Quero parar sobre um aspecto inicial da narrativa: «Maria partiu para uma região montanhosa». Isabel morava distante com Zacarias! Tratava-se de um casal idoso que, contra toda probabilidade, vivia a bênção da espera por João Batista. O encontro de Maria e Isabel, o afeto de duas mulheres grávidas, compõe cenário da visitação! Para que isso fosse possível, Maria precisou «atravessar a montanha».
A vida nem sempre é linear e as montanhas são uma metáfora da descontinuidade, a necessidade de amar o desnível, de dar sentido aquilo que não é «planície». As «montanhas» atravessam as nossas relações e recordam que visitar, aproximar, compreender, servir, não é uma tarefa simples e fácil, não é fazer de qualquer jeito.
As «montanhas» impedem encontros, convivências, ofuscam a verdade do outro. As «montanhas» são as imagens que fazemos, os preconceitos que alimentamos, o idealismo que guardamos. Maria, ao atravessar a montanha, coloca no princípio da fé a busca por aproximar-se e conhecer a identidade do outro. Não é possível fazê-lo sem escalar «montanhas» para chegar mais perto.
Na fé mais genuína, mais bonita, não pode estar o tempo e o esforço por tornar as montanhas ainda mais altas e intransponíveis, como carregadores de pedras e de terra. Este é o caminho oposto ao de Maria. A superficialidade da planura precisa ser provocada pela ousadia da «montanha». Não há fé sem visitação, não há fé sem «montanha». Trata-se de um sair de casa contínuo. A Igreja em saída é a Igreja de Maria, de Jesus, da humanidade que não escolheu ficar pisoteando a mesma «planície».
Pe. Maicon A. Malacarne