“Considerai, com todo o coração, a conjuntura que estais passando”, disse o Senhor ao profeta Ageu, palavras endereçadas a Zorobabel, governador de Judá e a Josué, sumo sacerdote (Ag 1,1-8). Depois do exílio, a questão que se colocava era da reconstrução do Templo. A expressão usada por Deus convidava a aguçar a reflexão sobre a conjuntura, ou seja, os movimentos e os acontecimentos da história. Deus convidava a pensar, a aprofundar a situação para buscar uma saída. É interessante que o chamado a reflexão vem acompanhado da ação: “subi ao monte, trazei a madeira e edificai a casa…”.
Reflexão e ação são movimentos relacionais. Não se trata de escolher uma coisa ou outra, um lado ou outro. É verdade que em diferentes momentos eles adquirem acentos particulares, mas o importante é fazer com que se tornem uma estrada por onde os nossos pés encontram a firmeza e o sustento para percorrer. Reflexão e ação são como que o farol que ilumina a vida para fora de nós mesmos, são a âncora para a fé se encarnar no mundo.
A perplexidade de Herodes, no evangelho, sobre a fama de Jesus, é um exemplo da falta de reflexão, da ação autocentrada, fechada nos seus desejos pessoais: “quem é este homem de quem ouço falar?” (Lc 9,7-9). Herodes não pensava, não refletia, não aprofundava, agia para manter o seu status e sentia medo com qualquer sinal de ameaça ao seu poder.
Um dos caminhos espirituais mais fecundos para a vida ‘que pensa’ é aprender a desacelerar. De fato, a correria é a grande inibidora da reflexão. A pressa nos torna repetidores de frases soltas, de informações desconectadas dos conteúdos. É uma tragédia! A espiritualidade deve sempre fecundar a direção da consciência, da abertura, da profundidade, do pensamento crítico, do conteúdo de cada palavra e de cada decisão.
Mia Couto escreveu poesia sobre a lentidão da sede: ‘A chegada dos bois ao bebedouro me ensina a espera, o tempo da água no corpo da terra. O boi bebe e os olhos se enchem de céu. (…). Um dia, me cumprirei, findo e final, como os bois se acercam do bebedouro. Um dia, serei bebido pelo céu’.