O evangelho de hoje (Mc 12,1-12) faz lembrar, de imediato, a grande expressão de Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, morto pelo nazismo: «Deus nos faz saber que devemos viver como aqueles que se arranjam na vida sem Deus. O Deus que está conosco é o Deus que nos abandona». De fato, essa teologia da «distância de Deus» foi assumida por outros teólogos e místicos do último século. Etty Hillesum, no campo de concentração, dizia do Deus impotente, que confiava em cada ser humano para ajudá-lo a não banalizar o mal.
Jesus inicia a parábola de hoje, contada para aquele grupo de mestres da Lei, anciãos e sumo sacerdotes que estavam querendo pegá-lo por ter questionado a ordem do Templo, assim: «Um homem plantou uma vinha, cercou-a, fez um lagar e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou a vinha para alguns agricultores e viajou para longe». A parábola continua com um destino difícil – os vinhateiros, não compreendendo o dom da vinha, se tornaram homicidas e usurpadores daquilo que tinham recebido gratuitamente.
Quero parar sobre essa expressão: «o dono da vinha (…) viajou para longe!» A distância é uma das qualidades de quem ama. Alguns casais, por exemplo, não conseguem continuar uma relação bonita por causa do medo da distância, cuja proximidade vai se tornando quase uma prisão, uma gaiola, que é sinal de desconfiança e de controle. Pode-se dizer que o amor exige um justo equilíbrio de distância. Estar afastado não significa abandonar, deixar ao bel-prazer. Assumir a distância é propor a autonomia, a responsabilidade sobre as escolhas e a liberdade na experiência.
É porque Deus ama que confia e entrega a vinha. A responsabilidade dos vinhateiros (hoje, de cada um de nós!) é acolher esse presente e responder com responsabilidade para ajudar a vinha (o mundo!) a ser o que ele deve ser. Deus já fez tudo e tudo está em nossas mãos: «sede fecundos, multiplicai-vos» (Gn 1,28). A fecundidade é a vocação maior – gerar vida – para que a vinha nunca acabe!
Pe. Maicon A. Malacarne